Tianeptina

ATENÇÃO

Estas informações são de uso exclusivamente educacional. É importante, portanto, consultar com regularidade a literatura técnica especializada, considerando que relatos de caso, pesquisas recentes e dados da farmacovigilância podem acarretar revisão substancial das informações sobre os medicamentos.

As fichas técnicas são destinadas especialmente a estudantes e profissionais de saúde não médicos que têm dificuldade em encontrar fontes simplificadas e organizadas para consultas rápidas.

FONTE DE DADOS
Além de dados garimpados nas referências indicadas no referencial téorico, estas informações foram obtidas e consolidadas basicamente de duas fontes: Drugs@FDA (do Departamento de Saúde e Serviços Humanos) e PubChem (do National Center for Biotechnology Information – NCBI –, pertencente ao Instituto Nacional de Saúde – NIH), ambas do governo norte-americano.
No indicação terapêutica, por uma questão de acessibilidade e praticidade, foram utilizadas as denominações habituais do dia a dia e também, por questão de uniformidade, a do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V) e, eventualmente, seus subtipos e especificadores. Em alguns casos, foi preciso indicar, também, a padronização da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), da Organização Mundial de Saúde (OMS).

TIANEPTINA

tianeptina sódica

1. REFERÊNCIA RÁPIDA

Marca

Stablon®

Indicação primária

Transtorno Depressivo Maior.

ATC e Prescrição

Classificação ATC (Anatomical Therapeutic Chemical Code):

  • Psicoanaléptico (N06) > Antidepressivo > Outros > N06AX14.

Notificação de prescrição ANVISA:

  • Outras substâncias > Notificação C > Lista C1 (branca com retenção).
Neurotransmissão

O efeito da tianeptina está relacionado ao seguintes ligantes endógenos:

  • via opioide: encefalina, endorfina;
  • via glutamatérgica: glutamato e glicina;
  • via dopaminérgica: dopamina.

A primeira hipótese sobre o mecanismo de ação propunha que o efeito terapêutico era alcançado por meio da indução da recaptação da serotonina, mas ela não sobreviveu às evidências experimentais e, hoje, essa indução é considerada, quando é, como efeito secundário ou consequência do mecanismo principal.

Nexus

Redução de limiar convulsivo (anticonvulsivante), toxicidade muscular, analgesia, depressor, índice terapêutico estreito, neurotóxico, Droga de abuso, síndrome serotonérgica, modulador serotonérgico.

2. INDICAÇÃO TERAPÊUTICA

2.1 Estudos experimentais (ensaios clínicos controlados)

  • Depressão maior: transtorno depressivo maior.

2.2 Estudos observacionais (coorte, caso-controle), experiência clínica ou consenso de especialistas

  • Distimia: transtorno depressivo persistente.
  • Depressão ansiosa: transtorno depressivo maior com características ansiosas.
  • Depressão atípica: transtorno depressivo maior com características atípicas.
  • Fibromialgia: transtorno de sintomas somáticos com dor predominante.
  • Outro transtorno de sintoma somático.

2.3 Preditores de baixa adesão ao tratamento

Determinados efeitos colaterais ou reações adversas podem prejudicar a adesão ao tratamento. Por isso, o conhecimento dessas ocorrências é importante para uma orientação mais assertiva ao paciente.

disfunção sexual

0%

sonolência

20%

ganho de peso

1%

2.4 Aspectos clínicos notáveis

Potencialização

Potencialização baseada em estudos observacionais ou experiência clínica.

  • Antipsicótico atípico.
  • Inibidor da monoaminoxidase.
Destaque

Aspectos destacados em estudos clínicos ou observacionais.

  • Reduz episódios de broncoespasmo em pacientes asmáticos com sintomas ansiosos.
  • Opção de substituição para pacientes com queixas sexuais (libido, disfunção erétil).
  • Baixo perfil de Reação adversa: paciente idoso.
  • Baixa metabolização CYP450: paciente com polifármacia.
  • Mecanismo antidepressivo alternativo via Receptor opioide pode ser útil em pacientes refratários.
Ponto de atenção

Alguns aspectos do Medicamento merecem atenção por associar o Medicamento a riscos a desvantagens em relação a outras alternativas de prescrição:

  • associação com paroxetina pode agravar sintomas depressivos.
  • risco de abuso, pois sua sobredose provoca euforia ou efeito dissociativo.
  • posologia com três administrações diárias pode dificultar adesão ao tratamento.

3. FARMACOLOGIA

Os parâmetros farmacocinéticos e farmacodinâmicos são utilizados para a construção da curva dose-resposta, uma das bases da terapêutica e do uso racional dos medicamentos, úteis também para a definição e titulação da posologia, além da escolha do Medicamento mais adequado ao perfil do paciente.

3.1 Farmacodinâmica e parâmetros relacionados

SAIBA MAIS
A construção do traçado da curva dose-resposta depende de informações sobre a concentração do Fármaco no local de ação e a intensidade dos efeitos obtidos, sendo possível apoiar dados sobre eficácia do Medicamento e afinidade entre Fármaco e Receptor. A análise desses efeitos, no entanto, depende dos dados relativos aos alvos farmacológicos e ao mecanismo de ação.
Alvos farmacológicos

A tianeptina possui afinidade de ligação significativa com o Receptor opioide-μ (ligado à proteína Gi, influencia por ela canais de cálcio voltagem-dependente) e baixa afinidade com o Receptor opioide-δ (ligado à proteína Gi/G0).

Ação agonista direta em receptores opioides:

  • Receptor opioide-μ (MOR): encefalina e endorfina.

Ação moduladora indireta em receptores de glutamato e glicina:

  • Receptor AMPA-1 (GluA1).

Ativação indireta de receptores de dopamina:

  • receptores D2 e D3.

Mecanismo de ação

As evidências mais atuais indicam que a ação antidepressiva e ansiolítica da tianeptina ocorre por intermédio do Receptor opioide-μ (MOR).

Esses receptores opioides são reconhecidos por modular neurônios das vias de glutamato. Como o glutamato é o principal neurotransmissor excitatório do cérebro, controlando a atividade neuronal de grande parte dos circuitos cerebrais, incluindo a plasticidade, a modulação de suas vias pode levar a uma infinidade de efeitos.

Os receptores de glutamato são amplamente expressos no hipocampo e regiões adjacentes. Nesse contexto, a ativação de MOR nas células granulares do giro denteado pode reduzir a fosforilação de mensageiros intracelulares e, como consequência, diminuir a atividade do glutamato, geralmente elevada em situações de estresse crônico. Além disso, a ativação desses receptores opioides reduz a atividade de interneurônios inibitórios do hipocampo. Como resultado, os neurônios glutamatérgicos das áreas CA1 e CA3 do hipocampo ficam desinibidos e podem atuar na plasticidade e no controle de excitabilidade sináptica dessa região (aumento da atividade espontânea das células do hipocampo).

Como efeito adicional, a ação agonista nesse Receptor provoca um aumento da disponibilidade de dopamina no núcleo accumbens (NAc), nos núcleos da base. Desse modo, receptores de dopamina dos terminais pré-sinápticos de neurônios das vias de glutamato e glicina modulam a atividade glutamatérgica no núcleo subtalâmico e no sistema mesolímbico (reduz liberação de glutamato na amígdala basolateral).

Embora a ação da tianeptina sobre a serotonina não pareça relevante, sua ação na modulação das vias do glutamato influenciam a liberação de serotonina, por exemplo, no núcleo dorsal da rafe, principal fonte de projeções serotonérgicas em direção ao sistema límbico.

Efeitos adversos

Efeitos adversos que merecem atenção:

  • ativação de transtorno bipolar latente;
  • hepatite;
  • penfigoide bolhoso.

Efeitos adversos leves a moderados e possivelmente transitórios:

  • efeito colinérgico: boca seca, visão turba, constipação, sedação;
  • cefaleia, tontura, insônia;
  • astenia;
  • taquicardia;
  • alteração dos sonhos;
  • redução do apetite.
Dosagem

Posologia única:

  • dose total diária inicial e alvo: 37,5 mg (3 comprimidos).
  • t.i.d. – três administrações ao dia: 9h/13h/18h.

3.2 Farmacocinética e parâmetros relacionados

SAIBA MAIS
A dose administrada e a via de administração influenciam a intensidade do efeito, pois este, como visto, depende da concentração do Fármaco no local de ação. Assim, os parâmetros que descrevem o trânsito do Fármaco no organismo são imprescindíveis para entender as variáveis que influenciam a eficácia do Medicamento.
Absorção
  • Forma farmacêutica: comprimido revestido.
  • Dose por unidade posológica: 12,5 mg.
  • Via oral.
  • Biodisponibilidade: ± 99%.
Distribuição
  • Ligação a proteína plasmática: ± 94% (albumina).
  • Volume de distribuição: 0,8 L/kg.
Metabolismo
  • Principal: beta-oxidação hepática da cadeia lateral heptanóica.
  • Baixo envolvimento da P450 3A4.
  • Metabólito ativo: ácido pentanóico (MC5).

Eliminação
  • Meia-vida: ± 3h.
  • Depuração renal.

4. POPULAÇÕES ESPECIAIS

Alguns grupos apresentam riscos que devem ser avaliados antes da administração de qualquer Medicamento, sob risco de agravamento de problemas de saúde ou de alterações de neurodesenvolvimento.

Doenças cardíacas
  • ECG basal de rotina.
Insuficiência renal
  • Reduzir posologia a duas administrações ao dia.
Insuficiência hepática
  • Sem ajuste de dose em etilista crônico.
Criança e adolescente
  • Indicado apenas a maiores de 18 anos.
Gravidez e lactação
  • Categoria X (Anvisa).
  • Categoria D (FDA).
  • Não é indicada durante a lactação.

Atualizado em: 5/ago/20

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