Selegilina

ATENÇÃO

Estas informações são de uso exclusivamente educacional. É importante, portanto, consultar com regularidade a literatura técnica especializada, considerando que relatos de caso, pesquisas recentes e dados da farmacovigilância podem acarretar revisão substancial das informações sobre os medicamentos.

As fichas técnicas são destinadas especialmente a estudantes e profissionais de saúde não médicos que têm dificuldade em encontrar fontes simplificadas e organizadas para consultas rápidas.

FONTE DE DADOS
Além de dados garimpados nas referências indicadas no referencial téorico, estas informações foram obtidas e consolidadas basicamente de duas fontes: Drugs@FDA (do Departamento de Saúde e Serviços Humanos) e PubChem (do National Center for Biotechnology Information – NCBI –, pertencente ao Instituto Nacional de Saúde – NIH), ambas do governo norte-americano.
No indicação terapêutica, por uma questão de acessibilidade e praticidade, foram utilizadas as denominações habituais do dia a dia e também, por questão de uniformidade, a do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V) e, eventualmente, seus subtipos e especificadores. Em alguns casos, foi preciso indicar, também, a padronização da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Selegilina

cloridrato de selegilina

1. REFERÊNCIA RÁPIDA

Marca

Jumexil®

Indicação primária

Doença de Parkinson idiopática (adjuvante)

ATC e Prescrição

Classificação ATC (Anatomical Therapeutic Chemical Code):

  • Antiparkinsoniano (N04) > Agente dopaminérgico > Inibidor da monoaminoxidase B > N04BD01.

Notificação de prescrição ANVISA:

  • Outras substâncias > Notificação C > Lista C1 (branca com retenção).
Neurotransmissão

O efeito terapêutico da selegilina está ligado, primariamente, à inibição da MAO-B (monoaminoxidase tipo B) e, portanto, à redução do catabolismo da dopamina (monoamina), da feniletilamina e da tiramina (ambas aminas-traço). Em doses mais elevadas, porém, ela também inibe a MAO-A, promovendo adicionalmente redução do turnover de serotonina e noradrenalina (efeito antidepressivo).

Nexus

Redução de limiar convulsivo (anticonvulsivante), toxicidade muscular, analgesia, depressor, índice terapêutico estreito, neurotóxico, Droga de abuso, síndrome serotonérgica, modulador serotonérgico; L-deprenyl.

2. INDICAÇÃO TERAPÊUTICA

2.1 Estudos experimentais (ensaios clínicos controlados)

  • Doenças de Parkinson idiopática (adjuvante).
  • Parkinsonismo secundário.

2.2 Estudos observacionais (coorte, caso-controle), experiência clínica ou consenso de especialistas

  • Depressão atípica: transtorno depressivo maior com características atípicas.
  • Depressão maior: transtorno depressivo maior
  • Transtorno depressivo resistente ao tratamento.
  • Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade.
  • Fobia social: transtorno de ansiedade social.
  • Transtorno neurocognitivo leve.
  • Síndrome da fadiga crônica (adjuvante).
  • Transtorno da personalidade borderline.

2.3 Preditores de baixa adesão ao tratamento

Determinados efeitos colaterais ou reações adversas podem prejudicar a adesão ao tratamento. Por isso, o conhecimento dessas ocorrências é importante para uma orientação mais assertiva ao paciente.

disfunção sexual

10%

sonolência

1%

ganho de peso

1%

2.4 Aspectos clínicos notáveis

Potencialização

Potencialização baseada em estudos observacionais ou experiência clínica.

  • Parkinson: agente potencializador de levodopa.
  • Fadiga crônica: agente potencializador de lisdexamfetamina.
  • Depressão no espectro bipolar: agente potencializador de antipsicótico atípico e lítio.
Destaque

Aspectos destacados em estudos clínicos ou observacionais.

  • Como adjuvante pode tratar tratar sintomas residuais: hipersonia, hiperfagia, sintomas somáticos.
  • Trazodona pode reverter insônia ou Sono superficial persistente.
  • Indutores do Sono podem reverter insônia inicial.
  • Simpatolíticos podem reverter quadro de hipertensão (bloqueador de cálcio pode dar rebote).
Ponto de atenção

Alguns aspectos do Medicamento merecem atenção por associar o Medicamento a riscos a desvantagens em relação a outras alternativas de prescrição:

  • pacientes cardiopatas.
  • considerar ocorrência de síndrome de serotonérgica em doses acima de 20 mg.
  • tramadol pode induzir convulsão.
  • carbamazepina aumenta os níveis séricos de selegilina.
  • simpatomiméticos, tópicos ou não, deve ser usados com cuidado e de modo criterioso.
  • não usar em pacientes em uso de meperidina.
  • cautela ao usar fitoterápicos.
  • em teoria, pode precipitar episódios de urgência impulsiva.

3. FARMACOLOGIA

Os parâmetros farmacocinéticos e farmacodinâmicos são utilizados para a construção da curva dose-resposta, uma das bases da terapêutica e do uso racional dos medicamentos, úteis também para a definição e titulação da posologia, além da escolha do Medicamento mais adequado ao perfil do paciente.

3.1 Farmacodinâmica e parâmetros relacionados

SAIBA MAIS
A construção do traçado da curva dose-resposta depende de informações sobre a concentração do Fármaco no local de ação e a intensidade dos efeitos obtidos, sendo possível apoiar dados sobre eficácia do Medicamento e afinidade entre Fármaco e Receptor. A análise desses efeitos, no entanto, depende dos dados relativos aos alvos farmacológicos e ao mecanismo de ação.
Alvos farmacológicos

A selegilina é antagonista seletiva e irreversível da enzima monoaminoxidase, responsável pela catálise oxidativa das aminas biogênicas, como dopamina, noradrenalina, serotonina, tiramina, feniletilamina.

Em baixas doses, porém, ela é seletiva para a IMAO-B, tipo predominante em neurônios, astrócitos, hemácias e linfócitos, que metaboliza preferencialmente dopamina, tiramina, feniletilamina e octapamina. A IMAO-A passa a ser inibida em concentrações mais elevadas, incluindo, então, a catálise oxidativa da noradrenalina e da serotonina.

Além de atuar na inibição da MAO, possivelmente inibe a glicoproteína-P (cuja função aparece alterada na doença de Alzheimer e em doenças intestinais inflamatórias) e a pró-enzima caspase-3, exercendo também um possível antagonismo alostérico nos adrenorreceptores α2A e α2B.

Mecanismo de ação

O mecanismo de ação global da selegilina não é totalmente bem esclarecido, mas ela exerce seu efeito, provavelmente, reduzindo o turnover de dopamina, aumentando, assim, a disponibilidade desse neurotransmissor no corpo estriado. Com o aumento da dompamina nas projeções nigroestriatais dopaminérgicas, a selegilina contribui para reduzir os sintomas motores da Doença de Parkinson.

A substância negra é rica em neuromelanina, substância que reage facilmente com espécies reativas de ferro e alumínio. Por isso, os neurônios dessa região são mais vulneráveis ​​ao estresse oxidativo, em razão de o metabolismo da dopamina gerar peróxido, responsável por produzir o radical reativo hidroxila. Com a redução desse metabolismo, a selegilina pode contribuir para a integridade dos neurônios nigroestriatais. Evidências obtidas de estudos com cadáveres de pacientes com DP conseguiram apoiar essa hipótese porque mostraram aumento de ferro e de alumínio nos grânulos de neuromelanina, sinais do aumento da peroxidação lipídica e diminuição da glutationa.

Adicionalmente, o aumento de disponibilidade de dopamina no cérebro pode contribuir também para seus efeitos antidepressivos e levemente moderadores dos transtornos de impulsividade e hiperatividade, contribuindo para modular disparos tônicos e fásicos de neurônios dopaminérgicos no córtex pré-frontal.

A selegilina apresenta ainda mais algumas propriedades. Seu metabolismo produz transitoriamente, e em baixa quantidade, L-anfetamina e metanfetamina, o que provavelmente contribui para seu efeito levemente estimulante. Além disso, sua presença parece exercer efeito neuroprotetor dentro de certa faixa de concentração sérieca e também reduzir a disponibilidade de metabólitos intermediários tóxicos (como o [3H] MPP+).

Por fim, uma provável ação sobre a glicoproteínap-P torna esse Fármaco objeto de testes clínicos para o tratamento de transtornos cognitivos leves.

Efeitos adversos

Efeitos adversos que merecem atenção:

  • crise hipertensiva em doses orais acima de 10 mg;
  • ativação de transtorno bipolar latente em doses orais a partir de 30 mg.

Efeitos adversos leves a moderados e transitórios:

  • bradicardia, náusea, boca seca;
  • cefaleia, tontura, insônia.
Dosagem

Via oral, para Parkinson (comprimidos de 5 mg):

  • dose diária inicial: 5 mg; dose-alvo: 10 mg.
  • b.i.d. – duas administrações ao dia: 8h/20h.

Via oral, demais condições (manipular cápsulas de 5, 10 ou 20 mg):

  • b.i.d. – duas administrações ao dia: 8h/20h ou 6h/18h.
  • início: 5 mg; titulação até 20-60 mg b.i.d. (implementar estratégias de restrição à tiramina alimentar).

3.2 Farmacocinética e parâmetros relacionados

SAIBA MAIS
A dose administrada e a via de administração influenciam a intensidade do efeito, pois este, como visto, depende da concentração do Fármaco no local de ação. Assim, os parâmetros que descrevem o trânsito do Fármaco no organismo são imprescindíveis para entender as variáveis que influenciam a eficácia do Medicamento.
Absorção
  • Forma farmacêutica: comprimido.
  • Dose por unidade posológica: 5 mg.
  • Via oral.
  • Biodisponibilidade: ± 10%.
  • Concentração plasmática máxima: 30 min.
Distribuição
  • Ligação a proteína plasmática: ± 85-99%.
  • Volume de distribuição: 0,8 L/kg.
Metabolismo
  • Ocorrência de metabolismo hepático de primeira passagem.
  • Metabolismo intestinal.
  • Inibição CYP450: 2B6; 2A6, 1A2, 2D6.

Eliminação
  • Meia-vida: ± 10h (via oral).
  • Eliminação renal predominante.

4. POPULAÇÕES ESPECIAIS

Alguns grupos apresentam riscos que devem ser avaliados antes da administração de qualquer Medicamento, sob risco de agravamento de problemas de saúde ou de alterações de neurodesenvolvimento.

Doenças cardíacas
  • ECG basal de rotina.
  • Risco de hipotensão ortostática.
Insuficiência renal
  • Monitorar níveis plasmáticos dos metabólitos e considerar redução da dose.
Insuficiência hepática
  • Considerar ajuste de dose de acordo com diagnóstico específico.
Criança e adolescente
  • Indicado apenas a maiores de 18 anos.
Gravidez e lactação
  • Categoria C;
  • Não é indicada durante a lactação.

Atualizado em: 6/ago/20

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